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Centro de Desenvolvimento Cultural (CDC) de Parauaepabs |
Parauapebas, 04 de setembro de 2025 — A saída da Instituto Mulheres de Barro do Centro de Desenvolvimento Cultural (CDC) revelou um impasse entre a Prefeitura de Parauapebas, por meio da Secretaria Municipal de Cultura (Secult), e os representantes do setor de artesanato local, expondo fragilidades na operacionalização de políticas públicas voltadas à cultura e à economia criativa.
A Secult divulgou nota afirmando que a saída do Instituto ocorreu de forma voluntária e negou qualquer imposição administrativa. Segundo a secretaria, o trabalho dos artesãos é valorizado, e há esforços para ampliar espaços de comercialização, formação e visibilidade, fortalecendo a identidade cultural e a economia criativa do município.
Em contrapartida, o Instituto Mulheres de Barro, responsável pela gestão financeira da “Casa do Artesão”, aponta que a loja sofreu diversos problemas estruturais e administrativos que comprometeram o funcionamento do espaço. A ausência de manutenção no CDC, a falta de apoio para atividades culturais e a paralisação das vendas reduziram significativamente a geração de renda dos artesãos. O movimento cultural, que sempre atraiu clientes para a loja, praticamente desapareceu, refletindo o impacto da falta de eventos e iniciativas de incentivo à economia criativa.
Para enfrentar essas dificuldades, o Instituto Mulheres de Barro lançou, em abril de 2025, o projeto Empreendedorismo Criativo, com o objetivo de fortalecer a cultura local e gerar oportunidades de trabalho e renda. A iniciativa incluiu a aquisição de 30 barracas para a realização de feiras no Complexo Turístico Bel Mesquita, reunindo artesãos, artistas plásticos, escritores, agricultores da agricultura familiar e instrutores de arte, além de músicos, atores e dançarinos. O projeto buscou parcerias com a Secult para organização de shows e espetáculos, visando atrair público e movimentar o espaço.
A ação recebeu apoio da Câmara Municipal de Parauapebas, presidida por Anderson Moratório, que colaborou para a criação da feira de arte e cultura aos finais de semana no Complexo Turístico Bel Mesquita. A iniciativa representa uma frente de geração de renda e fortalecimento da economia criativa local, especialmente em um contexto em que eventos tradicionais, como Carnaval, aniversário da cidade e festividades juninas, foram suspensos ou realizados de forma reduzida, impactando diretamente a renda de artistas, ambulantes e fornecedores locais.
A “Casa do Artesão” possui longa trajetória na cidade. O espaço foi solicitado pelos artesãos durante a gestão do secretário Cláudio Feitosa, nos mandatos do prefeito Darci Lermen, e teve sua primeira versão instalada em 2017 no Shopping Partage, em parceria com a Secult. Com o aumento da demanda, a loja foi transferida em 2022 para o CDC, sob administração conjunta do Instituto Mulheres de Barro, responsável pela gestão financeira, e da Secult, responsável pela infraestrutura, divulgação e apoio operacional. O espaço atendia mais de 50 expositores, em sua maioria mães solo e mulheres idosas das zonas urbana e rural.
O segmento de artesanato também enfrenta a necessidade de que a lei do Sistema Municipal de Cultura seja operacionalizada, permitindo que artistas tenham acesso a políticas públicas efetivas para geração de trabalho e renda. Atualmente, muitos artistas que antes trabalhavam com eventos municipais foram demitidos, e a falta de calendário cultural regular compromete o sustento de artesãos e ambulantes que dependem exclusivamente da movimentação desses eventos.
A tensão entre a Secult e os representantes do setor evidencia desafios na gestão de equipamentos culturais e na implementação de políticas públicas de incentivo à economia criativa. Apesar da nota da Prefeitura reafirmar compromisso com o diálogo e a valorização dos artesãos, o Instituto Mulheres de Barro e demais artistas da cidade reforçam a urgência de ações concretas que garantam o funcionamento de espaços de comercialização, a realização de eventos e a efetividade das políticas culturais.
A situação reflete não apenas a necessidade de estrutura e apoio institucional, mas também a importância do engajamento da Câmara Municipal e de parceiros para que Parauapebas mantenha viva sua tradição cultural e proporcione oportunidades de trabalho e renda para seus artistas e produtores culturais.